O Processo de Restauro: O Fardo e a Honra de Preservar

Bom, este post provavelmente será um misto de tecnicismos e queixas. Tecnicismos, porque procurarei contar sobre a concepção do projeto; e queixas, pelo que percebo como falta de assistência por parte do poder competente.

O ponto inicial para esta jornada foi entender o que é o tombamento e o que ele, de fato, significa para o Bixiga. A maior parte da nossa região é protegida como patrimônio histórico da cidade — abrangendo construções, alturas, vegetação e vistas. Mas, como alguns devem saber, o tombamento pode variar da conservação integral de toda a estrutura até a proteção apenas da fachada.

(Nota de Rodapé Pessoal: A arquiteta responsável, Akiko, foi minha chefe há muitos anos em projetos do Metrô de São Paulo. Ela é uma grande semeador do meu desejo de empreender. E foi ela quem me disse: "Ricardo, você não tem o perfil de quem trabalhará para os outros. Procure algo que te faça feliz." E eu procurei. Anos depois, a contratei para o projeto deste hostel.)

O Diagnóstico, a Descoberta e as Duas Frentes

O projeto começou com o levantamento de danos estruturais (em forma de desenhos técnicos), relatórios fotográficos detalhados e uma pesquisa histórica sobre os filmes e matérias de jornal que, há anos, já registravam o casarão.

A entrega inicial do Projeto de Restauro se tornou uma verdadeira arqueologia. Contamos com imagens das plantas originais, que foram encontradas em um departamento não relacionado da prefeitura de São Paulo. Este material, junto ao levantamento fotográfico, o relatório de importância histórica da casa e os desenhos técnicos, uniu a proteção à necessidade da vida moderna e permitiu que seguíssemos com as duas grandes frentes de trabalho:

1. Obras Emergenciais: Cobrir buracos no telhado, trocar vidros, sustentar pisos que estavam cedendo.

2. Projeto de Restauro: Sim, restauro. Nossa proposta sempre foi alterar o mínimo possível para apenas acomodar a vida moderna e a função de hostel.

Neste post, vamos focar exclusivamente nas obras emergenciais, que só ocorreram após minuciosos estudos sobre a estrutura da casa.

O Rastreamento da Fachada

Infelizmente, a fachada frontal já não possuía vestígios dos acabamentos originais (retirados em 2019, expondo os tijolos). Contudo, tivemos a sorte de que as casas "irmãs" do quarteirão, construídas na mesma época, ainda possuíam os frisos, o que nos permitiu a projeção fiel e a replicação desses acabamentos perdidos.

É nesse ponto que a fase de contenção dá lugar à fase de reconstrução. As obras emergenciais nos trouxeram alívio e segurança, mas o grande desafio estava apenas começando: como modernizar a elétrica e a hidráulica sem ferir a alma centenária da Peroba Rosa?