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Entre a História e o Presente: O Casarão do Hobi Hostel Boutique

  • Foto do escritor: Hobi Hostel
    Hobi Hostel
  • 14 de nov.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 16 de nov.

Eu sou Ricardo, sócio do Hobi Hostel Boutique, e meu papel aqui vai além do cotidiano. Sou um desenhista das linhas que moldaram o restauro, um pesquisador das histórias que ecoam nas paredes, e também um costureiro cuidadoso das cortinas e roupas de cama que adornam nossos quartos. Através deste espaço, compartilho minha vivência, uma janela para a forma como percebo o mundo — uma percepção que me conduziu à pesquisa histórica. Se minha voz causar desconforto a alguém, peço desculpas sinceras, de antemão.

Para você que lê estas linhas, convido a desacelerar e refletir. Os antigos moradores da casa, com suas limitadas possibilidades e conhecimentos, fizeram o que podiam para preservar este lar. Que possamos transformar a ideia de deterioração em uma apreciação da resistência: se não fosse por eles, talvez este casarão já tivesse sucumbido à voracidade da especulação imobiliária.


Parte 1 – O Primeiro Contato com o Casarão


Em 2023, ao cruzar os portões do casarão, um letreiro nos aguardava, apresentando um fragmento da história:

“O imóvel pertenceu a senhora Maria Cândida de Souza Prado, avó da atual proprietária, Elsa Maria Ferreira da Rocha. Este casarão, com traços do neoclássico italiano, foi erguido pelo comendador Sintra Gordinho.”

Como amante das narrativas, as palavras estampadas ali ressoaram em mim, revelando uma história que pulsava sob a superfície. Quem era Maria Cândida, além do laço de sangue que a unia a Elza (que eu conheci pessoalmente)? E quem teria sido este comendador, navegante de um tempo que já não existe?

Apesar das perguntas borbulhantes, deixei a história escapar momentaneamente, absorvendo o mix de animação e espanto que o casarão promovia em cada canto. Entre portas majestosas, pés-direitos altíssimos, quartos tumultuados, pinturas descasadas e quinas desgastadas, encontramos buracos quadrados ao lado das portas — exigências da prefeitura para permitir que os botijões de gás respirassem sob o corredor.

Ao descer ao subsolo, mais revelações. Os cuidados de dona Elza, tão conhecido por todos nós, nascidos aqui no bairro, foram substituídos, em sua ausência, por manchas de mofo que desenhavam sombras pelos tetos, enquanto a fragilidade de lajes expostas, com ferragens enferrujadas e ambientes onde, por tantas coisas acumuladas, só se podia entrar pela janela.  Banheiros improvisados e vitrôs travados lutavam contra a falta de ar. Ao abrir uma porta, uma nuvem de pulgas me saudou, vindo de um espaço que parecia paralisado em sua decadência (panelas com comidas mofadas e muitos objetos indistinguíveis). Nisto, achei alívio em perceber que não havia nenhum animal ali preso.

E na esperança de que o segundo andar fosse um almejado oásis, encontrei armadilhas do passado. As grandes janelas, um suspiro de luz e ventilação, não conseguiam salvar o cenário.  O telhado de telhas de cerâmica do século 19 trocados por remendos de fibrocimento, fixados com grampos em um improviso que almejava conter custos. O forro, uma memória distante, cedeu lugar a lonas improvisadas, como tentativas de proteger a casa contra a chuva insistente que, a cada tempestade, buscava sua entrada.

O terraço, erguido em 2019, parecia prometer um novo horizonte, mas, irônico destino, inclinava-se para o interior, conduzindo as águas da chuva a invadir o lar. Na cozinha transformada em quarto, a pia desajeitava-se no corredor; e o próximo cômodo, com rachaduras imensas, revelava uma visão do exterior, cuidadosa, porém, presa a um balde que aguardava as chuvas.

E o banheiro? Um retrato marcado pela decadência, com pisos improvisados e mofo que se erguia pelo reboco solto. As grandes janelas, outrora portadoras de luz, agora enfrentavam um tempo que não era suficiente para secar a umidade que se infiltrava.

O piso, peroba rosa, madeira tão preciosa e de impossível comércio, nos dias de hoje, já via pedaços seus se desprenderem sob os tapetes tão cuidadosamente postos por dona Elza.

Ainda me lembro de voltar ao hostel, que ficava em outro bairro, e ver os rostos expectantes dos hóspedes para saber das novidades. Ouvi apenas: Está tão ruim?




 
 
 

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1 comentário

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Ce.rmelo
15 de nov.

Ricardo te desejo toda sorte e sucesso, adorei sua história, obrigada por compartilhar, sempre reflito quando vejo uma casa assim, quantas conversas, quantos risos ou choro, crianças correndo pela casa, pais felizes com a chegada de mais um filho, a restauração não é apenas um visual que se deslumbra, mas que faz relembrar de um passado, não tão distante que bom se pessoas também pudessem ser restauradas juntos❤️🥹🥹🥹

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